quarta-feira, 10 de junho de 2009

Limiar


O olhar atento ao pequeno, o ínfimo, o desprezível. Ao lado, o infinitamente grande, o mesmo céu de antes. Nos livros, a verdade imutável se altera com as intervenções de Lucas. O que é impermanente e inconstante ganha contornos bem definidos nas xilogravuras de Tales.

Livros resgatados do esquecimento em que se encontravam ganham marcas de pólvora, que não se apagam: desenhos delicados feitos de matéria bruta.

Para cada tipo de nuvem é escolhida uma determinada goiva, uma ferramenta específica que reconhecemos pelas marcas deixadas na madeira. A imagem é calculada, exige desenhos preparatórios, estudos. Desenhar com pólvora é ter o imprevisto como parceiro.

Tales utiliza a matriz perdida, técnica que permite registrar as etapas de um processo em uma imagem única; Lucas faz desenhos que ocupam páginas sucessivas. Em ambos, a imagem é o resultado de um percurso. O encontro de duas sensibilidades, o limiar, ali onde começa o céu.


Amir Brito Cadôr

Artista Visual

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